terça-feira, 1 de março de 2011

Pucon - ou o dia em que escalei um vulcão sem querer!


Eu contei p/ voces que depois da minha agradável experiência na cordilheira dos Andes, em Mendoza, meu preconceito contra excursões diminuiu drasticamente, certo? Certo! Motivada por aquelas lembranças, fui à Pucon, no Chile, com o firme propósito de integrar um grupo para subir o vulcão Villa Rica, que além de lindo, ainda está ativo – agora percebam o termo utilizado SUBIR!
No decorrer destas 5 semanas de viagem esbarrei em muita gente indo ou vindo do vulcão... conheci até um brasileiro cujos pais já tinham escalado, ou seja, tinha que ser algo BEM TURISTICO! E de fato é, todas as agências de Pucon oferecem o passeio.

No mesmo dia em que cheguei na cidade entrei na agência de turísmo ao lado do meu hostel e disse: quero subir o vulcão amanhã! Em cinco minutos eu já estava experimentando o equipamento e recebendo as instruções do que deveria levar. Além da roupa impermeável e botas de treking, o equipamento incluia crampons (aqueles ganchos p/ colocar nos sapatos e caminhar no gelo), capacete e um martelo de neve – achei aquilo super cool, parecia coisa de filme e pensei: nossa, eles se esforçam mesmo na produção p/ fazer os turístas bobinhos acreditarem que estam encarando uma super aventura!

Às 4h30 da matina o grupo se reuniu e partimos para a montanha. Éramos doze: 10 europeus, 1 israenlense e euzinha do Brasil. O céu estava lindo, cheio de estrelas – ah, como seria maravilhoso aquele passeio na montanha! Imaginei a estradinha que nos levaria ao topo no mesmo estilo do caminho que leva ao Cristo na fronteira entre Chile e Argentina: cheia de curvas, com neve nas beiradas, mas a melhor parte, sem carros, só a turistada passeado e tirando fotos... seria lindo!

Então começamos a andar! Nos primeiros 30 minutos eu era a terceira ou quarta pessoa da fila. Depois de 1h já era a penúltima. A base do vulcão tem subidas enormes de terra fofa, por isso a caminhada exige muito esforço, confesso que pensei em desistir logo na primeira parada, mas juntei os cacos e continuei andando. Quando começou a clarear ficou bem mais fácil seguir o caminho e até atravessamos um laguinho de gelo – foi emocionante! Paramos novamente para ver as primeiras luzes da manhã e fazer algumas fotos, já fazia quase 3 horas que estávamos caminhando e nada da estradinha bonitinha aparecer, minhas pernas estavam doloridas, mas resolvi tentar um pouco mais, não devia estar longe, já dava p/ ver os picos nevados bem pertinho da gente.

Eis que na parada seguinte os guias (eram três) avisam para sacarmos o equipamento de neve – ok, vai ficar mais frio! Colocamos os crampons, as luvas, o capacete e eu não conseguia tirar os olhos daquela vista incrível! O vale lá embaixo, cheio de lagos, as colinas menores... era incrível! E foi então que finalmente olhei p/ cima... mas ao invés de me deparar com o caminho em curvas e neve pelos lados, o que vi foi um paredão de gelo e o guia explicando como deveríamos cravar o martelo na neve em uma derradeira tentativa de salvar nossas vidas caso delizássemos lá em cima.

Entrei em pânico! Chamei um dos guias, o Miguel, e expliquei a situação: “olha moço, eu nunca andei em um negócio desse antes, se eu deslizar não vou ter outra reação senão gritar! sou incapaz de salvar a minha vida com um martelinho de gelo, entendeu?”
O grupo partiu na frente e o Miguel ficou atrás para me tranquilizar. Decidi subir só um pedacinho p/ ver como era e ele me submeteu a uma terapia de choque, pegou minha mão e me fez descer alguns passos, só p/ eu entender que podia confiar no equipamento. Tudo certo! Busquei coragem sabe-se lá de onde e resolvi encarar, afinal era só UM paredão de gelo, o grupo já tinha até chegado do outro lado!

Mas como nada na vida é tão fácil assim, quando finalmente cheguei lá em cima enxerguei pelo menos mais CINCO paredões, mais assustadores que o primeiro, se erguendo montanha acima. Bom, eu já estava ali, então era melhor continuar, é só não olhar p/ cima e muito menos p/ baixo! #Fui

Não fiz a parada seguinte para poder ficar mais perto do grupo, mas a medida em que subia só conseguia pensar “essa é a coisa mais estúpida que já fiz na vida”. Lembrei das recomendações da minha mãe para não fazer atividades perigosas, do filme 172h que assisti em Santaigo, dos meus amigos, do pessoal do trabalho... será que eu fui legal com essas pessoas? Será que eu demonstrei sempre o quanto eles são especiais p/ mim? E no meio desse turbilhão de memórias olho p/ cima e vejo uma pedra... uma pedra rolando montanha abaixo na minha direção!

Não consegui me mexer, nem para fechar os olhos... A pedra passou há 2 palmos de mim, o que em uma montanha significa menos que centímetros. Eu encarei aquela pedra como uma mensagem celestial, era Deus me dizendo “Ei, Polly, tu estas ficando maluca? Desce dai, sua besta!”. Sim , Senhor! Na parada seguinte o grupo estava esperando, eles viram o que tinha acontecido e queriam saber se estava tudo bem. Disse que sim e parei para descansar enquanto eles continuavam, já estávamos na base da penúltima parede, só faltava 400m de subida (já estávamos a 2.700m de altitude), era quase nada.

Mesmo assim sentei e comecei a pensar... será que valia mesmo a pena? Eu nunca tinha pensado em ESCALAR (eis aqui a palavra certa) uma montanha, não sou, nunca fui e nem pretendo ser alguém radical, fui p/ lá de pateta achando que o passeio era outra coisa, então fazer isso p/ que? Para dizer que cheguei ao topo? Quem se interessa!?! Para ter uma história p/ contar? Já tinha acumulado mais histórias do que gostaria até ali! Então chamei o Miguel e disse, quero descer! Quando essas palavras saíram da minha boca, pensei de novo na minha mãe, no meu irmão e no amor gigante que sinto por eles – comecei a chorar! O pobre guia pensou que eu estava frustrada por não conseguir chegar até o final e ainda tentou me convencer a continuar, foi então que eu contei p/ ele como achava que seria o passeio: a caminhada tranquila, o caminho desenhado, a neve fina pelos cantos e ele, em uma atitude muito profissional, quase MORREU DE RIR!!!

Eu disse que a cada parada esperava que ele fosse me olhar e dizer: “Ei Brasil, você não tem condições de continuar, vai ter que baixar agora!” Mas não, ele sempre me estimulava: “Vamos lá Brasil, falta pouco!” – Ele disse que não percebeu que eu tinha medo, afinal minha cara de pânico estava encoberta por casacos, capacete e óculos escuros, mas que de fato as paredes seguintes eram bem mais verticais e com muito mais risco de rochas soltas, por isso se eu já estava desconfortável naquele ponto, a atitude mais sábia era mesmo descer!

Foi ai que o Miguel, a quem eu já tinha xingado internamente até a vigésima geração, segurou a minha mão e só largou 2h depois, quando finalmente chegamos no carro! E posso dizer uma coisa, muito longe de estar frustrada por não chegar ao topo... eu era a pessoa mais feliz do mundo descendo aquela montanha e só por isso apareço sorrindo nas fotos!

O Miguel me explicou que em geral a montanha não é perigosa, quando o tempo está bom cerca de 200 pessoas sobem todos os dias, nem todas chegam ao topo (como aconteceu comigo e com os pais daquele brasileiro), mas em caso de acidente os guias não podem fazer muita coisa a naõ ser carregar os feridos montanha abaixo. Já teve gente que morreu de ataque cardíaco, atingido por rochas, deslizando ou mesmo caindo em alguma das várias fendas que encontramos no caminho, isso sem contar nas fraturas e ferimentos por quem teve a “sorte” de ser atingido por pedras menores.

Não quero de forma alguma que isso soe como uma crítica a esta excursão – todo o resto do grupo chegou lá em cima e também voltou muito feliz, me dizendo “você perdeu um belo cheiro de enxofre Brasil” (explica-se: você só enxerga a cratera e a fumaça do vulcão, atualmente não tem vestígios de lava a vista). Eles foram lá p/ isso, sabiam como era, se dispuseram a encarar e saíram satisfeitos. No fim das contas eu também sai assim, brinco que fui muito além do topo, pois para alguém que em sã consciência jamais toparia a escalada, eu fui longe até demais! - na foto ai ao lado vocês podem ver um grande feixo de pedras do lado esquerdo, foi na base dele que eu parei.

Os casos de acidente são poucos se comparados ao número de subidas. Tenho vários amigos que ficariam felizes em encarar esta aventura, pensei em todos eles quando buscava forças para continuar, mas quer saber... eles que venham aqui escalar pessoalmente!

O lado positivo é que sai desta situação tão aliviada, me sentindo tão leve, que a única coisa que pesa no meu coração agora é um amor gigante à minha vida, aos meus familiares e aos amigos que tenho a sorte de cultivar. Para essas pessoas tão queridas, mando um beijo especial, equivalente a todos os beijos que por algum motivo deixei de dar ou às palavras de carinho que de repente não cheguei a dizer.

Amo todos e amo demais... obrigada por fazerem parte da minha vida!

7 comentários:

  1. Desce daí, Polly!
    Caramba, que tenso!!!
    Ahahahaha.
    Aproveita tudo, mas não te arrisca, tá?
    Quero te ver de volta pra contares tudo pessoalmente.
    Beijos.
    @rickmiranda

    ResponderExcluir
  2. Polly!! Realmente, quanta tensão!!
    Vc viu a sua vida passar como um filme diante dos seus olhos??
    Mas tenho que admitir que, apesar da tensão, me diverti horrores com o seu post!!! rsrsrsr
    Muito cuidado e atenção aí, viu!
    Bjos.
    Vivi.

    ResponderExcluir
  3. Polly que situação, imagino sua cara de pânico para querer descer, um filme passando na cabeça. Você foi muito corajosa de tentar subir. Não esqueçe continua contando suas aventuras. aproveita a viagem com cuidado. bjs

    ResponderExcluir
  4. Amigaaaa..pelo amor de Deus...se você pudesse me ver nesse momento, acho que vc morreria de tanto rir...to chorando horrores...não sei porque..ou talvez saiba...mas é algo que vem de dentro e eu não paro de chorar...Li o post inteiro derramando lágrimas e rindo ao mesmo tempo..feliz por você estar bem...! Ao mesmo tempo em que eu lia...parecia que as sensações que vc estava tendo...eu estava sentindo também!!! Talvez seja a saudade enorme que estou sentindo...Te amo tá?! Fica bem!!! E chega de aventuras radicais...sua 'praia' é mais estilo Chiloe! Beijos

    ResponderExcluir
  5. Ufa !!! Já estava com saudades de ler os teus textos. Que experiência !!! De um mero passeio turístico para ..... Da próxima vez pesquise um pouco mais, por favor. Tive a mesma sensação da Anna Cristina. Tensão e risadas, principalmente na descrição "nas primeiras horas vc era a terceira ou quarta da fila e depois de uma hora a penúltima". Atividade física não combina com você. Fique mais tempos em passeios do estilo de Chiloé. Concordo com a Ana. Beijos e mais beijos, do seu paidrasto. Dioniso

    ResponderExcluir
  6. "Foi ai que o Miguel, a quem eu já tinha xingado internamente até a vigésima geração..." - AHAHAHAHAHAHA, gargalhei com esse teu post! Sim, é um texto - e um relato tenso -, mas divertido! Tô amando ler tuas histórias e meio que sentindo de novo vontade de desenterrar meu projeto de ir pra Irlanda... ((:

    BeeeeijoS!

    ResponderExcluir
  7. Bom Dia Polly, em primeiro lugar parabéns pelo seu texto kkkk muitoo bomm adoreii.Em 2008 também fiz essa escalada no Vila Rica, pra vc ter idéia, meu passeio era nas termasquentes ... bem mais light, quando passei em uma agencia e vi esse passeio ,como sou aventureira gosto disso tudo,resolvi mudar o passeio das termas para a escalada ... porém eu também não consegui chegar até o topo, mas não me frustrei não ... com certeza subirei novamente
    ahh e fiz um skibunda muitoo divertidoo kkkkkk
    Plly,sinta-se feliz só por aquela linda paisagem que é ver la de cima ....e lembre-se o limite de tudo e de todas as coisas somos nós que decidimos na vida um grande beijo
    Paula Colin

    ResponderExcluir