domingo, 27 de março de 2011

Torres del Paine - W


Quem me conhece sabe que não sou uma pessoa lá muito esportiva, na verdade estou mais para o tipo sedentária com orgulho! mas conforme disse no post anterior, a Patagônia não se revela assim tão fácil... para conhecer as melhores paisagens é preciso suar a camisa, mesmo no frio! Depois do sucesso de El Chalten, eu e minhas recentes companheiras de viagem, Emile e Els, seguimos rumo a Puerto Natales, no Chile, base para explorar o Parque Nacional Torres del Paine (TDP), considerado uma das reservas naturais mais lindas do mundo, com toda a razão! faça sol, chuva, neve ou vento (muito vento) a paisagem é sempre magnífica num ângulo de 360°!

Escolhemos fazer o W, um trekking de mais de 70Km. Foram cinco dias dormindo em barracas, caminhando cerca de 7h por dia morro abaixo, morro acima e ... sem banho! Agora senta que lá vem história!

Dia 01 - Caminhada Extra: Depois de muito pesquisar e ouvir conselhos de outros mochileiros, eu e as meninas resolvemos fazer o trekking de maneira invertida, ou seja, do Oeste para o Leste, do fim para o começo. O caminho teoricamente seria mais fácil, mas quando chegamos lá vimos que a inversão, como tudo na vida, tem pontos positivos e negativos. Mesmo assim, somos três chicas pouco chegadas a regras, então andar a trilha "do avesso" nos pareceu bem adequado. Começamos com força total! Ao invés de pegar o catamaran que leva até o Camping Paine Grande, base de início (ou fim) do W, resolvemos caminhar 14km extras, para economizar os 11.000 pesos (50 reais) do barco, afinal já haviamos gastado absurdos com a entrada no parque 15.000 e aluguel de sacos de dormir, fogareiro, bastões de caminhada, entre outros. Levamos 6h30 no percurso! O vento contra e as mochilas ainda muito pesadas (pelo menos 15kg cada uma) nos levaram a algumas quedas, mas a vista era linda! O campo plano, todo dourado, contrastando com as montanhas negras ao fundo... O dia, hora nublado, hora tomado por um sol vibrante, revelava cores diferentes para as mesmas paisagens, nos dando a impressão de viajar entre vários mundos dentro do mesmo lugar.

Os últimos quilômetros antes do acampamento foram certamente os mais difíceis. A caminhada morro acima, apesar de dura e por vezes perigosa, revelava vistas cada vez mais impressionantes... Jornada finalizada, montamos nossas tendas no acampamento pago, onde conseguimos um bom desconto para passar duas noites, e fomos para a cozinha aquecida preparar nosso merecido banquete de macarrão com salsicha. Cansadas, porém felizes! E aqui devo fazer uma terrível confissão: o acampamento, muito bem equipado, tinha banheiro com duchas de água quente, nós sabiamos disso desde o início, porém, qual a vantagem de tomar banho nos 2 primeiros dias e passar outros 3 cheirando mal? Além disso, fazia MUITO frio e banho implicaria em carregar toalhas e sabonete, artigos de luxo para quem precisava dispensar qualquer grama de peso desnescessário na mochila, principalmente porque no fim das contas todo mundo acabava fedido mesmo!!! E ai, convenci nas justificativas??? Quem fez o TDP e tomou + de uma ducha, que atire a primeira pedra!... Ai! =)

Dia 02 – Glaciar Grey: Acordamos às 7 e meia da manhã, após uma noite fria! O vento forte por vezes nos fez pensar que as barracas não sobreviveriam, mas passamos bem. Os primeiros raios de sol colorindo a montanha nevada a nossa frente criavam a expectativa de um dia lindo. A caminhada de 3h30 (só de ida) até o segundo mirador do Glaciar Grey seria feita em uma trilha pouco mais complicada, cheia de altos e baixos, mas logo descobrimos que a ausência das mochilas grandes (devidamente guardadas no acampamento) fazia toda a diferença. Nos sentíamos tão leves, tão livres... caminhamos, corremos, fizemos piquenique na beira de um lado cheio de icebergs, brincamos com aqueles pedaços imensos de gelo e até nos sentimos perdidas por alguns minutos, só para logo em seguida ter o prazer de nos descobrir dentro de um buraco cheio de flores coloridas.

O Glaciar Grey, foi sem dúvida uma das paisagens mais bonitas do trekking! No caminho de volta paramos para colher Pissonli (não sei se este é o nome correto... uma folha que cresce nas mostanhas e, de acordo com a Emile, faz sucesso nos restaurantes mais caros da França), já tentamos comer a folha de umas 3 maneiras diferentes, mas ainda não desceu legal... mesmo assim gostamos da idéia de ter uma salada chique! A fineza, entretanto não durou muito... ao colher as folhas, percebemos que estavam molhadas e um olhar mais atento ao redor fez surgir o raio da lembrança: estávamos fazendo a colheita exatamente no local onde a Els havia feito xixi alguns minutos antes, se as gotas eram de orvalho ou pipi, nunca saberemos, mas preferimos desistir da salada!

Dia 03 – Vale Francês e muita chuva: Após uma noite linda e estrelada, eis que chega a manhã de chuva. Torres del Paine tem um microclima particular e as chuvas são constantes por ali - sortudos e muito poucos são aqueles que conseguem escapar. Estávamos preparadas: capas de chuva, roupas guardadas em sacos plásticos, mas o vento, o frio e o incômodo de caminhar por 3h30 até o acampamento seguinte com as mochilas grandes , sob chuvisco constante, murcharam nosso ânimo. Apesar do trecho curto e relativamente fácil, chegamos cansadas, mal humoradas e ainda por cima, tivemos que armar as tendas com o clima ruim, resultado: chão molhado e um frio de rachar! Trabalho terminado, coloquei uma muda de roupas secas e me enfiei no saco de dormir, sem chances de encarar a caminhada de 2h30, morro acima, até o Vale Francês. As meninas, resolveram apostar no ditado “quem tá na chuva é pra se molhar”, apesar da boa vontade, desistiram pelo meio do caminho, já que a visibilidade estava muito comprometida. Neste dia jantamos cedo e dormimos no acampamento gratuito (camping italiano), sem banheiro e sob o ruído assombroso das avalanches nas montanhas do vale.

Dia 04 – Um belo e longo caminho: Quando acordamos finalmente não havia mais chuva, tomamos um longo café da manhã para recuperar as energias, afinal o dia seria longo... quase 7h de caminhada até o próximo acampamento. Mas a primeira missão do dia era chegar ao camping Los Cuernos, há duas horas de onde estávamos, objetivo: usar o banheiro! A gente já estava craque em fazer xixi no mato, mas o n°2... já era pedir demais, né? Assim que começamos a trilha, olhamos para trás afim de checar a montanha das avalanches, a quantidade de neve desprendida era IMPRESSIONANTE! Como não tinha feito a trilha no dia anterior, eu não tinha noção de que estávamos tão perto... melhor assim, se soubesse talvez tivesse conseguido dormir! O caminho começou fácil, bastante plano e novamente revelando paisagens maravilhosas. O vento, sempre traiçoeiro em Torres del Paine, por vezes soprava rajadas fortes, um desses sopros mais inspirados derrubou a Els no meio de um monte de pedras deixando de brinde um joelho todo ralado! Mas nossa guerreira belga seguiu firme e forte sem reclamar.

Paramos no acampamento pago, usamos o banheiro, a água e de quebra as mesas externas para o almoço, no esquema 0800, claro! Na sequência, 1h de caminhada morro acima para fazer a digestão. No meio do caminho decidimos pegar um atalho para ir ao camping Chileno, o que tornou nosso caminho ainda mais duro, igualmente longo, porém nos salvaria 2h na jornada do dia seguinte. Juntei os últimos minutos de bateria do meu mp4 e chamei o Oasis para um reforço de emergência. A trilha sonora era tão perfeita e casava tão bem com a paisagem que simplesmente não me contive, abri os braços e soltei um grito... AAAAAaaaaahhhhhh \o/ Quando percebi, as meninas estavam rindo e se desculpando com um casal de mochileiros assustados... não eu não estava machucada, o grito não era um pedido de socorro, era só excesso de felicidade escorrengando corpo afora!

Dia 05 – Torres del Paine: A noite no acampamento chileno foi a mais fria de todas. Estávamos a quase 800m de altura, com MUITO vento (e só quem já foi no TDP sabe o que MUITO VENTO significa!), novamente sem banheiro e morrendo de inveja das pessoas ricas do refugio, comendo churrasco e tomando vinho. Ninguém dormiu direito, mas no dia seguinte estávamos prontas para encarar a caminhada mais difícil de todas, a trilha mais íngreme, os ventos mais forte, para finalmente chegar na cereja do bolo... as famosas Torres del Paine. Desde o início do trekking a Emile falava na bendita foto das montanhas que ilustravam mapas, postais e o álbum do todos os amigos no facebook, a foto perfeita, a paisagem que tanto nos esforçamos para ver fecharia a jornada com chave de ouro. Pois bem, fomos! Depois de 1h30 de caminhada eis que vemos um monte I-MEN-SO de pedras... não podia ser, vamos ter que escalar até láááááá em cima? Yep! Coloquei os bastões na mochila e fiquei parecendo um samurai (na verdade olhando p/ minha sombra, só pensava no Kung Fu Panda), com as mãos e pés bem firmes começamos a escalar. O vento estava absurdamente forte, começamos a lembrar de todas as histórias sobre gente sendo soprada montanha abaixo... finalmente entendemos como pode ter acontecido de verdade.

Após 1h de subida exaustiva, finalmente chegamos nas Torres e... NÃO eram as benditas montanhas que a Emile tanto queria ver!!! Confesso que fiquei p*** e tomo a liberdade de insinuar um palavrão aqui, pois só assim vocês vão ter a dimensão exata do que senti. Ok, era bonito, com os raios de sol as cores ficavam realmente encantadoras, a terra vermelha circulava em redemoinhos sobre a águal azul turquesa do lago e tudo mais... o problema é que o bendito parque se chama TORRES DEL PAINE e diante de tudo que havíamos visto em 5 dias de caminhada, esperávamos algo magistral, mas o que encontramos lá era apenas muito bonito... ainda assim não tão "muito bonito" quanto a vista do Fitz Roy em El Chalten ou mesmo o caminho do primeiro dia, o glaciar grey e o vale do dia anterior. Além do mais era impossível curtir propriamente o lugar com aquele vento tão forte. Fizemos algumas fotos, usamos toda a nossa boa vontade para enxergar o máximo possível de magia ali, lembramos a importância geológica das montanhas e saímos felizes já que, afinal, para baixo todo santo ajuda!

Antes de desmontar acampamento ainda recebemos a visita de uma raposa procurando algo para o almoço (tô falando de restos de comida, não da gente!). Depois de tudo pronto, seguimos morro abaixo pensando em banho, comida de verdade, vinho e cama! Acabamos a trilha às 17h e o próximo micro para levar à estação de ônibus só sairia às 19h30. Resolvi esperar, pois minhas pernas se recusavam a caminhar outro trecho desnescessário. As meninas, incansáveis resolveram percorrer a trilha a pé, só para passar o tempo Oo. No meio do caminho, porém, quando já tinham se arrependido da ídéia, eis que surge um anjo oferecendo carona. Quando finalmente cheguei em Puerto natales, duas horas depois delas, encontrei minhas amigas já cheirosas e com o jantar no fogo. Tomei o banho mais gostoso da minha vida, comi a comida mais deliciosa, bebi o vinho mais saboroso (e olha que era gato negro) e dormi o melhor sono de todos em uma cama bem quentinha.

Tiramos o dia seguinte para relaxar e colocar a vida em dia antes de seguir viagem. Trocamos fotos, impressões e ao final nos vimos plenamente satisfeitas com a experiência como um todo... fizemos o trekking “devagar”, tomando nosso tempo em um ritmo tranquilo e com isso conseguimos aproveitar tudo. Muito gente enxerga o parque como um desafio e por isso se esforça ao máximo para fazer o percurso no menor tempo possível focando nas atrações principais, com isso baixam a cabeça para um caminho cheio de pedras sem se dar contas que algumas das vistas mais bonitas não estão exatamente no ponto final e sim pelo meio do caminho. Ah! E as benditas montanhas que a Emile tanto queria ver, conforme descobrimos mais tarde, são os Cuernos del Paine e advinha só, a paisagem famosa, com o laguinho e as montanhas de cogumelo, não está na trilha e sim na frente de um HOTEL DE LUXO, por onde todos passamos com o ÔNIBUS... zero esforço para vê-las! Como diria Alanis Morissette: Isn't it ironic?... We think so!

Finalizada nossa aventura no paraíso seguimos viagem para o Fim do Mundo, mas essa história eu conto depois! ;)
Beijos e cheiros!

segunda-feira, 14 de março de 2011

El Calafate / El Chalten - Rumo ao fim do mundo!

Sair de Bariloche não foi fácil, especialmente para o meu bolso! O ônibus até El Calafate, terra de Cristina e Nestor Kirchner, me custou 498pesos p/ uma viagem de 28h. O ônibus era muito confortável, do tipo cama, já que a opção mais barata (semi-cama) não estaria disponível pelos próximos 3dias. Infelizmente, não há muita escolha quando vc viaja rumo ao fim do mundo!

Ainda na estrada a Patagônia mostra seu poder: há menos de 1h de El calafate, seguíamos o caminho em direção a neblina, eis que de repente o lado esquerdo do ônibus é tomado por uma chuva forte! As janelas embaçadas recebiam gotas initerruptas e o tempo cinza não permitia visibilidade sequer há meio metro de distância. Enquanto isso, do lado direito, a paisagem seguia por quilômetros de distância, até onde os olhos eram capazes de ver, sob um sol de rachar. ABSURDOOOO!!!!!


O maior atrativo de El Calafate é literalmente muito grande: o Glaciar Perito Moreno, uma geleira do tamanho da cidade de Buenos Aires, com paredes equivalentes a prédios de 20 andares e o triplo deste tamanho debaixo d´água. Sob a luz do sol, as fendas de gelo são de um azul inacreditável e difícil de capturar com a câmera fotográfica, um espetáculo exclusivo para os olhos.


Todos os dias pedaços enormes destas paredes despencam em um processo natural. O barulho das rachaduras dentro do glaciar cria expectativa... muitas vezes são apenas pequenos desprendimentos, mas de repente, blocos de gelo equivalentes a três edifícios se soltam e caem bem ali, diante de nossos olhos, com o ruído de 10 trovões. A cena deixa todo mundo em êxtase: gritos, palmas, assobios, queixos caídos e olhos arregalados em uma mistura de espanto e emoção.

Passado o primeiro momento de deslumbramento, logo começamos a perceber outros pedaços que estão prestes a cair. Consegui registrar um desses desprendimentos, menor que o primeiro, mas igualmente emocionante! Com a chegada do fim de semana, aproveitei o tempo bom para ir a El Chalten encontrar duas companheiras de viagem, Emile e Els, uma francesa e uma belga que se conheceram no Peru, se reencontraram em Santiago no hostel onde eu estava e passaram a viajar juntas, como nosso roteiro é praticamente o mesmo estamos sempre nos achando e nos perdendo por aqui.

El chalten é considerada a capital do trekking na Argentina, as trilhas levam a lugares fenomenais! Uma balança em Pucon já tinha me alertado que era hora de começar a queimar todo o dulce de leche que ando comendo por aqui, começamos então com uma caminhada leve: 3h para ir e outras 3h para voltar até a Laguna Torre, decorada com montanhas e um belo glaciar. A trilha é longa, mas bem fácil, praticamente toda plana. Durante quase todo o trajeto pelo bosque, ainda bem verde nesta época do ano, é possível ver as montanhas nevadas ao fundo. Passeamos alegres e serelepes, nos sentindo como Hobbits em Senhor dos Anéis, segundo a Emile, que já viajou meio mundo, o cenário lembra mesmo a Nova Zelândia, talvez por estar situado na mesma latitude.

No dia seguinte era hora de fazer o negócio valendo! Acordamos cedo e pegamos a trilha principal em direção ao Fitz Roy, uma das montanhas mais bonitas e difíceis do continente americano. O caminho leva quase 6h para ir e pelo menos outras 3h para voltar, sendo a primeira e a última hora antes de chegar à Laguna de los Tres (ponto final da trilha) as mais difíceis, já que o caminho é morro acima... e bota acima nisso! Os 500m finais da subida são como uma grande escada, então tente imaginar o que é passar 1h subindo uma escada de meio quilômetro para finalmente chegar ao topo e descobrir que ainda tem outro morro ali na frente! No fim das contas o esforço é recompensado pelo prazer de ver bem de pertinho aquela montanha gigante e saber que a partir daquela fronteira, só os montanhistas mais experientes são autorizados a continuar.

Na volta estamos completamente cansadas, mas também felizes e o mais importante, nos sentindo preparadas para a próxima aventura: Torres del Paine, o parque nacional chileno conhecido por ter as paisagens mais incríveis das Américas, quiçá do mundo! Vamos fazer o circuito W, um trekking de 5 dias com direito a acampamento, comida instantânea e provavelmente zero banho. Vai ser um desafio... talvez o maior desta viagem. Prometo contar tudo quando voltar! Hoje deixo vocês com um cheiro, para aproveitar enquanto ainda posso! Até mais ;)

Bariloche - sol e água fresca!


O título deste post pode parecer estranho, afinal Bariloche costuma ser associada a frio, neve e oportunidade rara para os turistas brasileiros usarem aquela roupitcha de inverno. Mas em pleno carnaval o que encontrei por lá foi um calor digno de verão brasileiro!

Passar o carnaval fora do Brasil na verdade costuma ser meio frustrante (a não ser que você vá p/ Colônia, na Alemanha, que é tudo de bom!), mesmo assim sempre há formas de compensar.

A própria viagem entre Chiloé e Bariloche já foi um passeio e tanto! Depois de atravessar o canal que separa a ilha chilena do continente, precisei fazer uma parada em Puerto Montt. A cidade não é muito bonita, mas a vista do lago com o vulcão Osorno ao fundo é espetacular!

Em Puerto Montt peguei o ônibus rumo à Argentina (13.000pesos chilenos/45reais), do outro lado da fronteira as montanhas e o lago Nahuel Huapi enfeitavam a paisagem como um presente de boas-vindas. É bom estar de volta! Vou sentir falta dos mariscos chilenos, mas aqui tem dulce de leche e, conforme descobri mais tarde, muito chocolate bom =)

Logo no primeiro dia confesso que fiquei surpresa quando o pessoal do hostel me recomendou ir à praia. Praia, em Bariloche??? A notícia era novidade p/ mim, mas resolvi experimentar e não me arrependi! Na Playa Bonita a água fria do lago estava na temperatura ideal para abrandar o calor.

No dia seguinte resolvi aproveitar novamente a estrada a caminho de Villa la Angostura. A cidade é menor, mas tão charmosa quanto Bariloche, com praias mais reservadas e paisagens igualmente fenomenais. Na verdade confesso que justamente por ser menos turística aproveitei Angostura muito mais!

Bariloche é bonita, mas a maior parte dos atrativos está longe do centro, por isso o ideal para quem quer conhecer bem a área, é alugar um carro e circular pela região. Entre os passeios mais populares estão a Ruta dos 7 lagos, estrada incrível, de nome auto-explicativo, até San Martin de los Andes e o Parque Municipal Lao Lao, que também pode ser visitado de bicicleta em um circuito (circuito chico) de 25km, cheio de ladeiras e subidas - é preciso fôlego!

O aluguel de um carro com quilometragem livre custa em média 300pesos (150reais), um valor bom para dividir com amigos ou com outros viajantes bem dispostos, mas que pode ser bem mais salgado nos períodos de alta temporada (verão/inverno). Também existem várias opções de camping e trilhas ecológicas na área.


Como eu não sei dirigir, mando mal na bicicleta e também não tinha muito tempo p/ rodar por lá, acabei não indo muito longe. Apesar de todo o aparato turístico, dá para aproveitar bastante por conta própria. Antes de deixar a cidade arrisquei uma caminhada pelo Parque Lao Lao, mas é tão grande, que não deu p/ ver muita coisa. Bom mesmo foi subir o Cerro Campanário e encerrar a visita com uma vista de tirar o fôlego.


Tanto o Campanário quanto o Cerro Otto (mais perto do centro da cidade) tem teleférico para chegar ao topo (40pesos-Campanário/70pesos-Otto), mas a caminhada morro acima além de gratuita também não é das mais difíceis.


Depois de agradar os olhos, fui a uma chocolateria fazer a festa do meu paladar. Essa parte, acho que todo mundo entende, não há palavras para descrever... basta olhar a foto!

Beijos açucarados... até logo!

segunda-feira, 7 de março de 2011

Chiloé - uma caixinha de surpresas no meio do Pacífico


Depois de viver (literalmente) altas aventuras no vulcão Villa Rica, em Pucon, parti em busca de tranquilidade na ilha de Chiloé, uma parte pouco visitada do território chileno. Logo na chegada percebi que não poderia ter feito escolha melhor - no clima enevoado do fim de tarde, Chiloé se apresentava como uma versão Sulamericana de Avalon, envolta em brumas. Nas águas geladas do Oceano, um casal de leões marinhos, especialista em piruetas, encantava os recém-chegados. Naquela hora eu entendi que estava indo para um lugar mágico!

O primeiro dia de passeio em Ancud, cidade que adotei como base na ilha, quase foi boicotado por uma chuva fina e insistente, mesmo assim não desisti: levei minha melhor capa de chuva para dar uma voltinha. As chuvas são muito comuns em Chiloé, não há como fugir! Apesar do vento frio, os tons de cinza do céu fazem um contraste bonito com as casas coloridas em estilo alemão. Mas como vocês bem sabem, caros amigos, disposição é um negócio que tem limite e esse limite muitas vezes é curto, por isso depois de uma horinha de passeio voltei correndo para o hostel onde passei uma tarde gostosa tomando mate debaixo das cobertas.


Em dois dias na ilha devo admitir ter mais conhecimento dos restaurantes do que da geografia da geografia local. Explica-se: além de a comida ser maravilhosa, com muitos mariscos e salmão fresco, também é incrivelmente barata, ou seja, dei uma folga pro supermercado e fui fazer meu estômago feliz longe da minhas "habilidades culinárias". Um dos pratos mais inusitados (e típicos) da ilha, mistura salmão, queijo, tomate e... chorizo - segura essa dieta!

Quando o sol resolveu dar as caras comecei a explorar os outros cantos da ilha. Primeiro fui à Castro, a capital de Chiloé, localizada há mais ou menos 1h30 de Ancud. Entre as atrações da cidade estão as casas de palafita, nada muito especial p/ quem vive na Amazônia. O centro é pequeno e meio caótico, não fiquei mais do que 2horas por lá, a maior parte desse tempo na feirinha de artesanato Mapuche, em frente ao mercado de peixe (onde eu pensei muito na minha mãezinha e resisti bravamente à tentação de comer os mariscos preparados na hora pelos peixeiros, ao preço tentador de 1000 pesos - uns 4 reais).

De Castro peguei um micro para Quimchi, povoado que uma mocinha da agência de turismo recomendou, de fato ela acertou em cheio, o visual do porto é incrível! O mar tão azul parece tingido com anelina. Como a água gelada não era nada convidativa para o banho, sentei na rampa e fiquei admirando a paisagem, eis que para minha completa felicidade um po-po-po se aproxima do cais, sem saber bem para onde ia perguntei ao barqueiro -Eu posso ir? - Pode! - beleza, mas lembrando dos meus apuros recentes, tratei de perguntar -o senhor volta p/ cá depois? - Ele respondeu alguma coisa no castellano chileno enrolado que eu entendi como -Volto sim, em mais ou menos uma hora - não tinha muita certeza se era isso mesmo, mas eu queria muito ir, então pulei p/ dentro do barco com uma senhora, que depois descobri ser a esposa do barqueiro e um senhorzinho, morador da ilha em frente. Enquanto ele levava os dois em casa, eu me encantava com o passeio, a vista, a conversa e os leões marinhos largados num sono gostoso pelas boias de sinalização. Toda essa beleza resgitrada apenas na memória, a câmera ficou esquecida no hostel =/


No dia seguinte o plano era ir p/ Chonchi, uma cidade depois de Castro recomendada pelo meu guia de viagens. Parecia ótimo, o mapa colorido de Chiloé apontava várias igrejas bonitas e uma ilha de fácil acesso no caminho, foi então que meu colega de quarto, um alemão chamado Tim, me mostrou a parte do mapa para onde ele iria e me fez trocar esta quase peregrinação católica por uma missão inusitada: Pegamos o ônibus rumo a Castro, descemos no meio da estrada, ligamos para o celular do dono de uma pousada em Chepu, há 15km dali, ele foi nos buscar e para nosssa sorte tinha um barco com o qual atravessamos o rio até chegar na entrada de uma trilha, o caminho de 20 minutos era feito basicamente de lama e chegava em uma praia MA-RA-VI-LHO-SA de mar aberto.

Longe de ser o ponto final a trilha seguia até o fim da praia por cima de um morro para um mirante e em seguida para outra praia onde em algumas épocas do ano se pode ver pinguins. Como a estação de pinguins já passou eu e o Tim desistimos de seguir o caminho e nos largamos na praia imensa para fazer um piquenique com queijo Gouda e... vinho chileno, é claro! nas quase 5 horas que estivemos por lá só cruzamos com meia dúzia de viajantes e algumas vacas. Para completar a felicidade a praia tem um barco encalhado, no qual é possível subir e ter uma vista ainda mais exuberante do lugar!


Um casal de chilenos que cumpriu toda a trilha disse que não perdemos nada demais, de fato não havia nenhum pinguinzinho perdido por lá, nesta época do ano eles partem para o Sul! Na volta desistide lutar contra a natureza e fiz a trilha de lama descalça, muito mais fácil! Também matei a vontade de cair na água com um banho de rio. O dia perfeito foi fechado com chave de ouro em um restaurante de mariscos, como vai embora depois de tudo isso? A vontade de ficar era grande, mas no dia seguinte reuni coragem, mentalisei uma tonelada de dulce de leche e coloquei o pé na estrada rumo à Argentina.


Agora estou em Bariloche, vivendo histórias para serem contadas em outro post, mas antes de encerrar este aqui preciso mostrar p/ vocês uma garotinha que conheci, ou melhor, foi ela quem ME conheceu, no lago Caburgua, em Pucon. O nome dela é Alexa, tem 7 anos de idade, gosta de filmes de princesa e... quer ser exploradora quando crescer!

Com esses dentinhos tortos e o jeito tagarela foi impossível não lembrar da Ellie, de Up! Quando descemos do ônibus ela veio puxar papo curiosa, porque nunca tinha ouvido alguém falar de um jeito tão diferente, como eu. Expliquei que no meu país, o Brasil, as pessoas falam uma língua chamada português, fato que a deixou simplesmente encantada! A partir desta deixa minha nova amiga abandonou o conforto da tenda de praia da família e se instalou na minha modesta canga para uma tarde agradável de muita conversa sobre o Chile, o Brasil, princesas encantadas e todo o resto do mundo!


Beijo p/ Alexa e beijo p/ vcs!!!

=***

terça-feira, 1 de março de 2011

Pucon - ou o dia em que escalei um vulcão sem querer!


Eu contei p/ voces que depois da minha agradável experiência na cordilheira dos Andes, em Mendoza, meu preconceito contra excursões diminuiu drasticamente, certo? Certo! Motivada por aquelas lembranças, fui à Pucon, no Chile, com o firme propósito de integrar um grupo para subir o vulcão Villa Rica, que além de lindo, ainda está ativo – agora percebam o termo utilizado SUBIR!
No decorrer destas 5 semanas de viagem esbarrei em muita gente indo ou vindo do vulcão... conheci até um brasileiro cujos pais já tinham escalado, ou seja, tinha que ser algo BEM TURISTICO! E de fato é, todas as agências de Pucon oferecem o passeio.

No mesmo dia em que cheguei na cidade entrei na agência de turísmo ao lado do meu hostel e disse: quero subir o vulcão amanhã! Em cinco minutos eu já estava experimentando o equipamento e recebendo as instruções do que deveria levar. Além da roupa impermeável e botas de treking, o equipamento incluia crampons (aqueles ganchos p/ colocar nos sapatos e caminhar no gelo), capacete e um martelo de neve – achei aquilo super cool, parecia coisa de filme e pensei: nossa, eles se esforçam mesmo na produção p/ fazer os turístas bobinhos acreditarem que estam encarando uma super aventura!

Às 4h30 da matina o grupo se reuniu e partimos para a montanha. Éramos doze: 10 europeus, 1 israenlense e euzinha do Brasil. O céu estava lindo, cheio de estrelas – ah, como seria maravilhoso aquele passeio na montanha! Imaginei a estradinha que nos levaria ao topo no mesmo estilo do caminho que leva ao Cristo na fronteira entre Chile e Argentina: cheia de curvas, com neve nas beiradas, mas a melhor parte, sem carros, só a turistada passeado e tirando fotos... seria lindo!

Então começamos a andar! Nos primeiros 30 minutos eu era a terceira ou quarta pessoa da fila. Depois de 1h já era a penúltima. A base do vulcão tem subidas enormes de terra fofa, por isso a caminhada exige muito esforço, confesso que pensei em desistir logo na primeira parada, mas juntei os cacos e continuei andando. Quando começou a clarear ficou bem mais fácil seguir o caminho e até atravessamos um laguinho de gelo – foi emocionante! Paramos novamente para ver as primeiras luzes da manhã e fazer algumas fotos, já fazia quase 3 horas que estávamos caminhando e nada da estradinha bonitinha aparecer, minhas pernas estavam doloridas, mas resolvi tentar um pouco mais, não devia estar longe, já dava p/ ver os picos nevados bem pertinho da gente.

Eis que na parada seguinte os guias (eram três) avisam para sacarmos o equipamento de neve – ok, vai ficar mais frio! Colocamos os crampons, as luvas, o capacete e eu não conseguia tirar os olhos daquela vista incrível! O vale lá embaixo, cheio de lagos, as colinas menores... era incrível! E foi então que finalmente olhei p/ cima... mas ao invés de me deparar com o caminho em curvas e neve pelos lados, o que vi foi um paredão de gelo e o guia explicando como deveríamos cravar o martelo na neve em uma derradeira tentativa de salvar nossas vidas caso delizássemos lá em cima.

Entrei em pânico! Chamei um dos guias, o Miguel, e expliquei a situação: “olha moço, eu nunca andei em um negócio desse antes, se eu deslizar não vou ter outra reação senão gritar! sou incapaz de salvar a minha vida com um martelinho de gelo, entendeu?”
O grupo partiu na frente e o Miguel ficou atrás para me tranquilizar. Decidi subir só um pedacinho p/ ver como era e ele me submeteu a uma terapia de choque, pegou minha mão e me fez descer alguns passos, só p/ eu entender que podia confiar no equipamento. Tudo certo! Busquei coragem sabe-se lá de onde e resolvi encarar, afinal era só UM paredão de gelo, o grupo já tinha até chegado do outro lado!

Mas como nada na vida é tão fácil assim, quando finalmente cheguei lá em cima enxerguei pelo menos mais CINCO paredões, mais assustadores que o primeiro, se erguendo montanha acima. Bom, eu já estava ali, então era melhor continuar, é só não olhar p/ cima e muito menos p/ baixo! #Fui

Não fiz a parada seguinte para poder ficar mais perto do grupo, mas a medida em que subia só conseguia pensar “essa é a coisa mais estúpida que já fiz na vida”. Lembrei das recomendações da minha mãe para não fazer atividades perigosas, do filme 172h que assisti em Santaigo, dos meus amigos, do pessoal do trabalho... será que eu fui legal com essas pessoas? Será que eu demonstrei sempre o quanto eles são especiais p/ mim? E no meio desse turbilhão de memórias olho p/ cima e vejo uma pedra... uma pedra rolando montanha abaixo na minha direção!

Não consegui me mexer, nem para fechar os olhos... A pedra passou há 2 palmos de mim, o que em uma montanha significa menos que centímetros. Eu encarei aquela pedra como uma mensagem celestial, era Deus me dizendo “Ei, Polly, tu estas ficando maluca? Desce dai, sua besta!”. Sim , Senhor! Na parada seguinte o grupo estava esperando, eles viram o que tinha acontecido e queriam saber se estava tudo bem. Disse que sim e parei para descansar enquanto eles continuavam, já estávamos na base da penúltima parede, só faltava 400m de subida (já estávamos a 2.700m de altitude), era quase nada.

Mesmo assim sentei e comecei a pensar... será que valia mesmo a pena? Eu nunca tinha pensado em ESCALAR (eis aqui a palavra certa) uma montanha, não sou, nunca fui e nem pretendo ser alguém radical, fui p/ lá de pateta achando que o passeio era outra coisa, então fazer isso p/ que? Para dizer que cheguei ao topo? Quem se interessa!?! Para ter uma história p/ contar? Já tinha acumulado mais histórias do que gostaria até ali! Então chamei o Miguel e disse, quero descer! Quando essas palavras saíram da minha boca, pensei de novo na minha mãe, no meu irmão e no amor gigante que sinto por eles – comecei a chorar! O pobre guia pensou que eu estava frustrada por não conseguir chegar até o final e ainda tentou me convencer a continuar, foi então que eu contei p/ ele como achava que seria o passeio: a caminhada tranquila, o caminho desenhado, a neve fina pelos cantos e ele, em uma atitude muito profissional, quase MORREU DE RIR!!!

Eu disse que a cada parada esperava que ele fosse me olhar e dizer: “Ei Brasil, você não tem condições de continuar, vai ter que baixar agora!” Mas não, ele sempre me estimulava: “Vamos lá Brasil, falta pouco!” – Ele disse que não percebeu que eu tinha medo, afinal minha cara de pânico estava encoberta por casacos, capacete e óculos escuros, mas que de fato as paredes seguintes eram bem mais verticais e com muito mais risco de rochas soltas, por isso se eu já estava desconfortável naquele ponto, a atitude mais sábia era mesmo descer!

Foi ai que o Miguel, a quem eu já tinha xingado internamente até a vigésima geração, segurou a minha mão e só largou 2h depois, quando finalmente chegamos no carro! E posso dizer uma coisa, muito longe de estar frustrada por não chegar ao topo... eu era a pessoa mais feliz do mundo descendo aquela montanha e só por isso apareço sorrindo nas fotos!

O Miguel me explicou que em geral a montanha não é perigosa, quando o tempo está bom cerca de 200 pessoas sobem todos os dias, nem todas chegam ao topo (como aconteceu comigo e com os pais daquele brasileiro), mas em caso de acidente os guias não podem fazer muita coisa a naõ ser carregar os feridos montanha abaixo. Já teve gente que morreu de ataque cardíaco, atingido por rochas, deslizando ou mesmo caindo em alguma das várias fendas que encontramos no caminho, isso sem contar nas fraturas e ferimentos por quem teve a “sorte” de ser atingido por pedras menores.

Não quero de forma alguma que isso soe como uma crítica a esta excursão – todo o resto do grupo chegou lá em cima e também voltou muito feliz, me dizendo “você perdeu um belo cheiro de enxofre Brasil” (explica-se: você só enxerga a cratera e a fumaça do vulcão, atualmente não tem vestígios de lava a vista). Eles foram lá p/ isso, sabiam como era, se dispuseram a encarar e saíram satisfeitos. No fim das contas eu também sai assim, brinco que fui muito além do topo, pois para alguém que em sã consciência jamais toparia a escalada, eu fui longe até demais! - na foto ai ao lado vocês podem ver um grande feixo de pedras do lado esquerdo, foi na base dele que eu parei.

Os casos de acidente são poucos se comparados ao número de subidas. Tenho vários amigos que ficariam felizes em encarar esta aventura, pensei em todos eles quando buscava forças para continuar, mas quer saber... eles que venham aqui escalar pessoalmente!

O lado positivo é que sai desta situação tão aliviada, me sentindo tão leve, que a única coisa que pesa no meu coração agora é um amor gigante à minha vida, aos meus familiares e aos amigos que tenho a sorte de cultivar. Para essas pessoas tão queridas, mando um beijo especial, equivalente a todos os beijos que por algum motivo deixei de dar ou às palavras de carinho que de repente não cheguei a dizer.

Amo todos e amo demais... obrigada por fazerem parte da minha vida!