segunda-feira, 7 de março de 2011

Chiloé - uma caixinha de surpresas no meio do Pacífico


Depois de viver (literalmente) altas aventuras no vulcão Villa Rica, em Pucon, parti em busca de tranquilidade na ilha de Chiloé, uma parte pouco visitada do território chileno. Logo na chegada percebi que não poderia ter feito escolha melhor - no clima enevoado do fim de tarde, Chiloé se apresentava como uma versão Sulamericana de Avalon, envolta em brumas. Nas águas geladas do Oceano, um casal de leões marinhos, especialista em piruetas, encantava os recém-chegados. Naquela hora eu entendi que estava indo para um lugar mágico!

O primeiro dia de passeio em Ancud, cidade que adotei como base na ilha, quase foi boicotado por uma chuva fina e insistente, mesmo assim não desisti: levei minha melhor capa de chuva para dar uma voltinha. As chuvas são muito comuns em Chiloé, não há como fugir! Apesar do vento frio, os tons de cinza do céu fazem um contraste bonito com as casas coloridas em estilo alemão. Mas como vocês bem sabem, caros amigos, disposição é um negócio que tem limite e esse limite muitas vezes é curto, por isso depois de uma horinha de passeio voltei correndo para o hostel onde passei uma tarde gostosa tomando mate debaixo das cobertas.


Em dois dias na ilha devo admitir ter mais conhecimento dos restaurantes do que da geografia da geografia local. Explica-se: além de a comida ser maravilhosa, com muitos mariscos e salmão fresco, também é incrivelmente barata, ou seja, dei uma folga pro supermercado e fui fazer meu estômago feliz longe da minhas "habilidades culinárias". Um dos pratos mais inusitados (e típicos) da ilha, mistura salmão, queijo, tomate e... chorizo - segura essa dieta!

Quando o sol resolveu dar as caras comecei a explorar os outros cantos da ilha. Primeiro fui à Castro, a capital de Chiloé, localizada há mais ou menos 1h30 de Ancud. Entre as atrações da cidade estão as casas de palafita, nada muito especial p/ quem vive na Amazônia. O centro é pequeno e meio caótico, não fiquei mais do que 2horas por lá, a maior parte desse tempo na feirinha de artesanato Mapuche, em frente ao mercado de peixe (onde eu pensei muito na minha mãezinha e resisti bravamente à tentação de comer os mariscos preparados na hora pelos peixeiros, ao preço tentador de 1000 pesos - uns 4 reais).

De Castro peguei um micro para Quimchi, povoado que uma mocinha da agência de turismo recomendou, de fato ela acertou em cheio, o visual do porto é incrível! O mar tão azul parece tingido com anelina. Como a água gelada não era nada convidativa para o banho, sentei na rampa e fiquei admirando a paisagem, eis que para minha completa felicidade um po-po-po se aproxima do cais, sem saber bem para onde ia perguntei ao barqueiro -Eu posso ir? - Pode! - beleza, mas lembrando dos meus apuros recentes, tratei de perguntar -o senhor volta p/ cá depois? - Ele respondeu alguma coisa no castellano chileno enrolado que eu entendi como -Volto sim, em mais ou menos uma hora - não tinha muita certeza se era isso mesmo, mas eu queria muito ir, então pulei p/ dentro do barco com uma senhora, que depois descobri ser a esposa do barqueiro e um senhorzinho, morador da ilha em frente. Enquanto ele levava os dois em casa, eu me encantava com o passeio, a vista, a conversa e os leões marinhos largados num sono gostoso pelas boias de sinalização. Toda essa beleza resgitrada apenas na memória, a câmera ficou esquecida no hostel =/


No dia seguinte o plano era ir p/ Chonchi, uma cidade depois de Castro recomendada pelo meu guia de viagens. Parecia ótimo, o mapa colorido de Chiloé apontava várias igrejas bonitas e uma ilha de fácil acesso no caminho, foi então que meu colega de quarto, um alemão chamado Tim, me mostrou a parte do mapa para onde ele iria e me fez trocar esta quase peregrinação católica por uma missão inusitada: Pegamos o ônibus rumo a Castro, descemos no meio da estrada, ligamos para o celular do dono de uma pousada em Chepu, há 15km dali, ele foi nos buscar e para nosssa sorte tinha um barco com o qual atravessamos o rio até chegar na entrada de uma trilha, o caminho de 20 minutos era feito basicamente de lama e chegava em uma praia MA-RA-VI-LHO-SA de mar aberto.

Longe de ser o ponto final a trilha seguia até o fim da praia por cima de um morro para um mirante e em seguida para outra praia onde em algumas épocas do ano se pode ver pinguins. Como a estação de pinguins já passou eu e o Tim desistimos de seguir o caminho e nos largamos na praia imensa para fazer um piquenique com queijo Gouda e... vinho chileno, é claro! nas quase 5 horas que estivemos por lá só cruzamos com meia dúzia de viajantes e algumas vacas. Para completar a felicidade a praia tem um barco encalhado, no qual é possível subir e ter uma vista ainda mais exuberante do lugar!


Um casal de chilenos que cumpriu toda a trilha disse que não perdemos nada demais, de fato não havia nenhum pinguinzinho perdido por lá, nesta época do ano eles partem para o Sul! Na volta desistide lutar contra a natureza e fiz a trilha de lama descalça, muito mais fácil! Também matei a vontade de cair na água com um banho de rio. O dia perfeito foi fechado com chave de ouro em um restaurante de mariscos, como vai embora depois de tudo isso? A vontade de ficar era grande, mas no dia seguinte reuni coragem, mentalisei uma tonelada de dulce de leche e coloquei o pé na estrada rumo à Argentina.


Agora estou em Bariloche, vivendo histórias para serem contadas em outro post, mas antes de encerrar este aqui preciso mostrar p/ vocês uma garotinha que conheci, ou melhor, foi ela quem ME conheceu, no lago Caburgua, em Pucon. O nome dela é Alexa, tem 7 anos de idade, gosta de filmes de princesa e... quer ser exploradora quando crescer!

Com esses dentinhos tortos e o jeito tagarela foi impossível não lembrar da Ellie, de Up! Quando descemos do ônibus ela veio puxar papo curiosa, porque nunca tinha ouvido alguém falar de um jeito tão diferente, como eu. Expliquei que no meu país, o Brasil, as pessoas falam uma língua chamada português, fato que a deixou simplesmente encantada! A partir desta deixa minha nova amiga abandonou o conforto da tenda de praia da família e se instalou na minha modesta canga para uma tarde agradável de muita conversa sobre o Chile, o Brasil, princesas encantadas e todo o resto do mundo!


Beijo p/ Alexa e beijo p/ vcs!!!

=***

3 comentários:

  1. Ai amiga...juro que espero, muito, que todas essas suas aventuras virem um livro! Ta sendo muito gostoso ler e acomapnahr suas aventuras!Ah, E morrendo de vontade de entrar pelo computador e te seguir...Beijos..saudades!

    ResponderExcluir
  2. Viu. Chiloé foi para vc uma caixinha de tranquilidade depois do Villa Rica. Beijos, Dioniso.

    ResponderExcluir
  3. Amiga!!!
    Não acredito que tu ESCALASTES o vulcão!!! Tipo, eu SUBI de carro, numa van gigante e já me caguei de medo nas curvas! Imagina tu! Ah mas fiquei super feliz de teres curtido Chiloé! Pena que meu livrinho das lendas de lá tá em Portugal, senão te mandava ele por correio hihihih Ai amiga, eu to adorando te acompanhar por aqui, mas queria mesmo era estar contigo pessoalmente. Nem fazes ideia da falta que fazes por aqui... Te amo muito!! Boa viagem =)

    ResponderExcluir