domingo, 3 de abril de 2011

Ushuaia – Histórias do Fim do Mundo


Sai de Puerto Natales em direção a Ushuaia às 7 da manhã. Dois ônibus, um ferry, duas aduanas e quase 10 horas depois pergunto para o motorista da van, quarto e último veículo da viagem: - Moço, ainda falta muito?
– Cerca de uma hora e meia – ele responde.
Diante da minha indisfarçável expressão de descontentamento ele conclui:
- Chica, você está indo para o fim do mundo, queria o que? Que fosse perto???
#FATO!!!
Nem preciso dizer como me senti... uma tonta! Afinal, viajar até a cidade mais austral do mundo, um lugar mais próximo da Antártida do que da minha própria casa, foi escolha minha e a distância não deveria ser uma surpresa! O caminho, apesar de longo foi altamente recompensador – atravessar o estreitode Magalhães em uma balsa seguida por pinguins e toninas (golfinhos patagônicos) rumo a uma terra que inspirou aventuras de Darwin e Julio Verne, não tem preço!!! (ainda que a passagem tenha me custado doídos 35.000 pesos chilenos – pouco mais de 150 reais)


Uma vez na Tierra del Fuego, quilômetros e quilômetros de estepa compõem um cenário desolado e magnífico, que remete às histórias da era do gelo, dos glaciares gigantes invadindo o continente, criando lagos e achatando montanhas. Uma terra habitada por mais ovelhas e guanacos do que gente. Só quando a van chegou pertinho de Ushuaia, o verde voltou a aparecer... bosques, vales e montanhas, entrecortados por rios e lagos, aumentaram ainda mais a satisfação de estar ali.

Se minha viagem foi cansativa, minhas companheiras, Els e Emile, passaram por momentos ainda menos confortáveis, elas resolveram “hacer dedo”, pedir carona até lá. O percurso feito em um número igualmente grande de veículos, levou 24h, um tempo considerado recorde entre todos os mochileiros que nos disseram ter se aventurado no mesmo percurso.


No primeiro dia, ainda sozinha, caminhei pela orla do canal Beagle, ponto de partida da expedição de Darwin rumo a Galápagos. Em uma feirinha de artesanato às margens do canal, encontrei o presente de aniversário perfeito para minha mãe professora/bióloga e atualmente aluna/doutoranda dedicada. Como ela ainda não recebeu o regalo, não posso dizer o que é =x

Terminei o passeio no lendário presídio del fin del mundo, desativado há algumas décadas, mas ainda importante no folclore da cidade. De volta ao hostel, eis que me deparo com um rosto conhecido – Ei, você não é o dono do albergue backpackers de Pucon? Com um ar divertido meu interlocutor responde – Sou, sim! E olhá só quem também está aqui. Olho para o lado e me deparo com... o Miguel! Meu guia amigo/pesadelo na aventura do vulcão, que já tinha me visto e claro, já estava morrendo de rir.
– Nãããããoooo... some daqui! Não vamos escalar nenhuma montanha!
Mas para meu alívio e alegria, ele estava de férias, mais interessado em passear de barco e ver pinguins do que viver aventuras. Entre gargalhadas e abraços apertados celebramos este encontro na pontinha do continente.


Nesta mesma noite encontrei as meninas e combinamos de visitar o Parque Nacional Tierra del Fuego na manhã seguinte. Como a grana anda curta e tudo lá é muito caro, resolvemos hacer dedo para economizar os 55 pesos do bus. Para facilitar o trabalho, descolamos um amigo alemão e nos dividimos em duplas – tudo certo! Chegamos ao local combinado para fazer um caminho alternativo, seguindo os trilhos do expresso Patagônico (trem que costumava transportar os presos para Ushuaia, agora apenas uma atração turística). Quem faz este caminho entra no parque sem pagar o ingresso de 75 pesos, inspirados pelas histórias do lugar e sem saber o quanto de (i)legalidade havia em nossa atitude, nos entregamos a brincadeira de presos fugitivos: cruzamos um rio absolutamente gelado – tão profundo nos molhava até os tornezelos, nos escondemos atrás de arbustos ao primeiro sinal da locomotiva para logo em seguida descobrir que era mais divertido ficar dando tchauzinho aos turistas intrigados. Comemoramos a chegada na estação macarena com uma dancinha óbvia e por fim, nos disfarçamos de locomotiva para cruzar o trecho marcado por uma placa onde se lia “Acesso ferroviário exclusivo”.


Quando finalmente chegamos a trilha oficial, já tínhamos perdido todo o ânimo de andar, mas... como todos usamos Havaianas (todos mesmo!), incorporamos o espírito brazuca e não desistimos NUNCA! Fizemos o percurso de 4h a passos de tartaruga, curtindo o caminho sem pressa. Paramos em várias praias para admirar coelhos, focas, pássaros enormes e uma infinidade de mariscos presos às rochas, subimos em árvores, fizemos pique-niques e por fim prometemos que aquela seria a ÚLTIMA TRILHA de nossa viagem juntas, afinal nossos corpos ainda não se recuperaram 100% do Torres del Paine.

A noite resolvemos comemorar o dia econômico em um pub irlandês (porque eles são os melhores pubs do mundo, até no fim do mundo) e ali pude constatar mais uma vez que aquela pontinha do continente é um lugar propício para bons encontros, quando de repente nossos amigos motoqueiros (do hostel mágico de Santiago onde conheci a Emile e a Els – vide post sobre a capital chilena)entram no bar. Patrick e Brian estavam em busca de uma jaqueta perdida e acabaram encontrando as amigas (Damon estava dormindo). Mais abraços fortes, risadas gostosas e a sensação maravilhosa de conhecer e reencontrar pessoas tão encantadoras neste caminho.

A night acabou em uma boate local, onde os hits do momento eram intercalados com clássicos da música brasileira como Bate forte de Tambor, a Barata da vizinha e... p/ não desmerecer o DJ, Chama Verequete! Ecletismo puro no lugar onde todos se encontram!!!

No dia seguinte as meninas saíram de barco para ver pinguins e toninas, como eu já tinha visto o espetáculo de graça, bati mais perna pelo centro da cidade e aproveitei a energia do lugar.


Se chegar em Ushuaia foi difícil, sair foi pior ainda. O único ônibus em direção ao continente sai às 5h da manhã, claro que não consegui acordar! Encontrei as meninas e fomos de carona até Rio Grande, última cidade antes da fronteira argentina na Terra do Fogo. Foram 4 carros e um dia inteiro na estrada para percorrer míseros 300km. Dormimos no único albergue da cidade e no dia seguinte finalmente consegui pegar o ônibus (às 8h) para Rio Gallegos, primeira grande cidade argentina no continente. Els e Emile ficaram mais um dia, eu encarei 9h de viagem, passando por 4 aduanas, um ônibus e o ferry com chuva!

Apesar da saída complicada, a experiência em Ushuaia foi absolutamente positiva! E quem pensa que diante de tanta lonjura esta foi a primeira e última vez que pisei lá, está muito enganado!!! Pretendo voltar quando estiver aposentada e ryca para fazer um cruzeiro até a Antártida, aguardem meus bens!!!

Mas por hora nosso destino é Puerto Madryn – lar de orcas e pinguins...

Até já!

2 comentários:

  1. Polly, vc ñ sabe como estou feliz em t vr nessa jornada aventureira pelo mundo. Sua felicidade é contagiante. Sinto muita falta de vc.

    Enqunto vc está no fim do mundo, eu estou no meio dele.

    Beijos

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  2. Olá!! Também realizei viagem ao Fim do Mundo este ano. Você teve mais sorte que eu. Nossa excursão não foi possível chegar até Puerto Natales devido a uma greve geral no Chile que fechou a passagem no Estreito de Nagalhães. Fui no mês de janeiro de 2011. Amei a viagem. E como você, também organizei um blog.

    Olha o endereço dele espero sua visita.
    http://leituraecartas.blogspot.com/
    no final do blog existe um espaço para você deixar uma mensagem para Elô. Um abraço. Eloisa

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